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quarta-feira, 28 de março de 2012

A Igreja Católica no mundo medieval


Na Europa, durante a Idade Média, dizer-se cristão significava essencialmente seguir a Igreja, que se autoproclamava católica (universal), apostólica (que prosseguia a missão dos apóstolos de Cristo) e romana (sediada em Roma, onde residia o papa, sucessor do apóstolo Pedro). Mais do que isso, ela se dizia única e verdadeira.
A Igreja Católica foi a instituição mais poderosa da Idade Média europeia. Numa época em que a riqueza era medida pela quantidade de terras, a Igreja chegou a ser proprietária de boa parte do território da Europa ocidental. Era a grande senhora feudal.
Todos os bispos dominavam porções significativas de terra. Aliás, ser bispo podia significar ter o controle de muita riqueza. Ao contrário da nobreza – que tinha seus bens repartidos por heranças, casamentos, doações, lutas pela posse da terra, etc. -, a Igreja só acumulava riquezas, já que os bens não pertenciam aos religiosos, mas à instituição em si.
Assim, usufruindo o poder que tinha sobre as consciências, a Igreja católica pôde acumular grande riqueza material na forma de doações dos fiéis. À medida que essa riqueza crescia, o alto clero, constituído por aqueles que ocupavam cargos mais elevados na hierarquia interna da Igreja, distanciava-se dos assuntos religiosos.
Controlando o poder espiritual e material, a Igreja foi responsável por manter, em grande parte, a ordem social da Idade Média. Segundo um texto da época:

Deus quis que, entre os homens, uns fossem senhores e outros, servos, de tal maneira que os senhores estejam obrigados a venerar e amar a Deus e que os servos estejam obrigados a amar e venerar o seu senhor (...).
(St. Laud de Angers. Citado em Gustavo de Freitas. 900 textos e documentos de História. Lisboa, Plátano, 1977. V. I, p. 145)

No século IX foi implantado o celibato obrigatório (proibição do casamento) a todo o clero, o que impedia o surgimento de herdeiros que reivindicassem bens da Igreja. Como as leis da época não garantiam a filhos ilegítimos nenhum direito à herança, o patrimônio eclesiástico se mantinha foram do alcance dos que nascessem da quebra da castidade clerical.
Não deve causar surpresa, portanto, o fato de a Igreja ter se tornado o maior proprietário rural da Europa medieval. E, se lembrarmos a importância da propriedade da terra no mundo feudal, não é difícil presumir a influencia que isso proporcionava à instituição.
Durante a Idade Média, a Igreja concentrou também as atividades culturais antes dominadas por não-religiosos. Saber ler e escrever, por exemplo, se tornou quase um monopólio dos monges, assim como o ensino e a formulação de princípios jurídicos (leis elementares, básicas) e políticos que orientaram os Estados medievais.
Não é simples coincidência, portanto, o fato de todos os soberanos europeus da época – muitos analfabetos como Carlos Magno, que só se alfabetizou depois de coroado – se cercarem de auxiliares clérigos.
O papa (pai), também chamado “sumo pontífice” (título reservado aos antigos imperadores romanos), era a autoridade máxima da Igreja. Cabia a ele tomar não só as principais decisões administrativas da instituição como também as religiosas, o que estendia sua influencia para além do próprio clero. Os Estados da Igreja também estavam sob o poder do papa – ele era, portanto, um soberano, um rei como os demais que havia na Europa.
Graças à sua influencia, a Igreja chegou a ditar até regras para a economia, como a proibição da usura e da especulação. Ela impôs também o “justo preço”: todo produto deveria ser vendido a um preço que cobrisse apenas seu custo e o trabalho do produtor; tal preço seria calculado pelo Estado e pelas associações de artesãos e mercadores.
No ensino, a Igreja se tornou responsável pelas escolas – onde estudavam os filhos da nobreza e os futuros clérigos. A partir do século XIII, a Igreja organizou as universidades, que, embora sujeitas a papas e reis, ganharam autonomia e, ainda na Idade Média, passaram a admitir cada vez mais leigos entre seus professores.
Vários aspectos da vida social na Idade Média foram igualmente regulados pela Igreja: casamentos, divórcios (por incesto, bigamia, adultério, etc.), divisão de heranças, definição das obrigações dos casais, registros paroquiais de nascimento (com o batismo), matrimônio, falecimentos, entre outros. Pertenciam à Igreja – que possuíam recursos financeiros para isso – vários orfanatos, hospitais, asilos para loucos e leprosos.
No que se refere à política, a Igreja passou a legitimar o poder de reis e imperadores – o que era simbolizado na coroação e na unção deles pelo papa. Não é difícil imaginar o que a excomunhão – ou seja, a expulsão – da Igreja, decretada apenas pelo papa, poderia significar na sociedade medieval, onde ser cristão representava o único meio de garantir algum direito. Frequentemente os papas usaram a excomunhão como arma política contra reis e imperadores, com o fim de submetê-los e desacreditá-los diante de seus súditos. Afinal, nenhum vassalo tinha a obrigação de obedecer a um soberano excomungado.

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