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domingo, 30 de setembro de 2012

A Guerra do Paraguai (vídeo 1/2)


A Guerra do Paraguai (vídeo 2/2)


Colonização inglesa da América

 In: http://imagohistoria.blogspot.com.br/2009/10/colonizacao-inglesa-da-america.html
A colonização inglesa da América do Norte se intensificou no século XVII, com a instalação de treze colônias do território americano. Já foi visto que os espanhóis foram os primeiros que tomaram contato com esses territórios, mas o interesse em explorar os metais da região do México e Peru fez com que os espanhóis descuidassem ou mesmo deixassem de lado o interesse na efetiva ocupação desses territórios. Assim durante o século XVI os ingleses fizeram algumas expedições de exploração e ações de pirataria nas águas do Atlântico Norte, para no século XVII fundar colônias e se apossar dessas territorialidades.

A colonização inglesa foi efetivada a partir de duas lógicas: através da iniciativa de companhias de comércio, cujo objetivo era organizar plantações no território americano que visasse à exportação, como, por exemplo, a Virgínia em 1607; ou através da iniciativa de particulares, especialmente refugiados puritanos (calvinistas) que fugiam da perseguição da Igreja Anglicana, como, por exemplo, Massachusetts, em 1620.

Assim, de uma forma geral observa-se a fundação de colônias por líderes religiosos ao Norte. Essas colônias receberam o nome de Nova Inglaterra. Nessas colônias desenvolveu-se a agricultura de subsistência nas pequenas e médias propriedades, com mão-de-obra assalariada, trabalho familiar, ou a servidão temporária, além das manufaturas, em especial a construção naval. A servidão temporária dizia respeito aos empobrecidos europeus (geralmente afetados pelos cerceamentos dos campos ingleses) que desejavam migrar para a América e não tinham dinheiro para custear a viagem. Essas pessoas se comprometiam a trabalhar por alguns anos (normalmente seis) nas terras de colonos americanos para pagar as dívidas da viagem; paga a dívida essas pessoas estavam liberadas para buscar a sua sorte na América.

Na região central da América do Norte, foram fundadas outras quatro colônias, entre elas Nova Iorque. Essa região foi ocupada por ingleses, mas também por holandeses e suecos. Desenvolveram-se algumas manufaturas e com grande sucesso a agricultura baseada nas pequenas e médias propriedades.

Uma característica marcante da colonização inglesa foi o chamado Comércio Triangular, que estabelecia ligações comerciais entre as colônias do norte e do centro, as Antilhas e a África. Os navios costumavam partir da Nova Inglaterra, carregados de produtos e aportar nas Antilhas. Nas Antilhas esses produtos serviam como base para a negociação do melaço, subproduto da cana-de-açúcar, que era amplamente cultivada nas terras antilhanas. Esse melaço servia para a produção do rum, nas próprias colônias americanas, que era utilizado para a aquisição de escravos na costa da África. Esses escravos foram introduzidos aos milhares nas colônias do sul, onde se desenvolveu as plantation, típica do sistema colonial, onde prevalece as grandes propriedades, com a utilização de escravos e a monocultura que visa a abastecimento do mercado externo, em complemento à economia metropolitana.

Uma diferença fundamental em relação à colonização espanhola e inglesa é que no caso espanhol existia o monopólio da exploração e do comércio colônias; no caso inglês, havia certa negligência em relação às colônias americanas – movido por problemas internos, por qual a Inglaterra passava – o que favoreceu o florescimento da atividade comercial. Essa “negligência” fez com que se se desenvolve na América inglesa, especialmente na Nova Inglaterra uma noção de autogoverno, que foi fundamental para o desenvolvimento do processo de independência da América do Norte no século XVIII. As singularidades que as colônias do norte apresentavam fizeram com que essas regiões fossem denominadas de colônias de povoamento, em oposição ao modelo das colônias sulistas da América, ao modelo português e espanhol, que ficou conhecido como colônias de exploração.

Abaixo uma representação da colonização da América do Norte.

Colonização espanhola da América (1/3): empresas particulares e vice-reinos

Como foi visto durante o século XVI os espanhóis, atraídos pelas riquezas da Confederação Asteca e do Império Inca, conquistaram amplos territórios, subjugando e exterminando milhares de indígenas. A territorialidade conquistada pos espanhóis se estendia do Sul da América, na região de Buenos Aires até a Califórnia, hoje território dos Estados Unidos.

Se num primeiro momento essa ocupação aconteceu por empresas particulares, muito rapidamente a coroa inglesa percebeu que era estratégico impor o seu poder nessa região, para controlar, principalmente, a produção e comercialização dos metais preciosos encontrados na América, através da prática do monopólio comercial, além de evitar a sonegação dos tributos, que eram essenciais para a manutenção do projeto colonizador.

Consequência da presença do estado espanhol na América foi a proibição da escravização dos indígenas. Contudo, se a escravização cessou, instituiu-se o trabalho compulsório dos nativos, ou seja, obrigatório.

Pode-se perceber que os espanhóis estavam desestruturando a forma de vida dos indígenas americanos e incorporando novas estruturas de poder, que visavam, sobretudo, a potencialização dos lucros e o controle da lucrativa colônia espanhola.

Suprimindo o poder dos adelantados, a coroa espanhola tratou de criar vice-reinos, que estavam subordinados à metrópole:

  • Vice-Reino da Nova Espanha – criada em 1535, atual Cidade do México, antiga Tenochtitlán, centro da Confederação Asteca.
  • Vice-Reino do Peru – criada em 1543, com a capital em Lima.
  • Vice-Reino da Nova Granada – criada em 1717, com capital em Bogotá.
  • Vice-Reino do Rio da Prata – criado em 1776, com capital em Buenos Aires.

Apesar da estruturação administrativa da colônia, todo o controle das atividades comerciais e da aplicação das leis era feito a partir da Espanha. A execução dessas leis ou decisões comerciais tomadas pela metrópole ficava a cargo, principalmente, das audiências, que funcionavam como tribunais, e constituíam a instituição de maior poder na América. No âmbito local, ou seja, nas cidades, as principais instituições eram os cabildos. Os cabildos eram responsáveis pelo recolhimento dos impostos e pela aplicação da justiça.
 A imagem acima retrata a utilização do trabalho compulsório na América espanhola.
In:  http://imagohistoria.blogspot.com.br/2009/10/colonizacao-espanhola-da-america.html

Colonização espanhola da América (2/3): organização econômica

No campo econômico coroa espanhola estruturou sua área de dominação tendo em vista o comprimento de seu principal objetivo: explorar as riquezas do novo continente, em especial, os metais preciosos. Nesse sentido, valeu amplamente da mão-de-obra dos indígenas, o que garantia um grande contingente de trabalhadores.

O relacionamento econômico entre a metrópole e a colônia ficou conhecido como “Pacto Colonial”. Essa relação previa, por um lado, a exploração monopolista das riquezas da colônia, que eram remanejadas para a Europa gerando imensos lucros; por outro, dizia respeito ao controle da venda das mercadorias européias na América, o que, igualmente, gerava imensos lucros. Como se pode perceber a expressão “Pacto Colonial” é incorreta uma vez que a relação entre metrópole e colônia era assimétrica e baseada no exclusivismo comercial, ou seja, quem sempre saia ganhando era a metrópole, ou então a elite local colonial, que detinha as principais atividades econômicas na América. Não se tratava, portanto, de um pacto, mas sim de uma imposição.

Com a proibição da escravização dos indígenas americanos, que aconteceu em 1542 (através das “Novas Leis”) os espanhóis passaram a adotar o trabalho compulsório, ou seja, apesar de não ser escravo os indígenas continuavam sendo obrigados a trabalhar em prol do enriquecimento dos espanhóis e da elite local. As principais formas de trabalho forçado foram o repartimiento, a encomienda e a mita.

  • Repartimiento – cada comunidade indígena deveria fornecer uma quantidade de trabalhadores para executar atividades para a coroa espanhola. Esses indígenas eram encaminhados a um juiz repartidor, que disponibilizava os trabalhadores para os interessados. Na prática, o repartimiento favoreceu amplamente os altos funcionários da coroa espanhola, que enriqueciam a custa da exploração do trabalho indígena.
  • Encomienda – como prêmios por seus grandes esforços na conquista do novo mundo, muitos adelantados poderiam ser agraciados através da encomienda. Essa força de trabalho compulsório previa a entrega de comunidades indígenas inteiras (em encomenda, ou seja, aos cuidados) de determinados conquistadores, por exemplo. Esses ficavam responsáveis pela catequização, proteção e pelo pagamento de seus tributos à Coroa, contudo, em contrapartida, exigiam prestação de trabalho e tributos em gêneros.
  • Mita – característica da região do Império Inca estabelecia que as regiões dominadas enviassem periodicamente homens para prestar serviços. Depois de alguns meses esses homens retornavam às suas comunidades, que deveriam encaminhar um novo grupo de homens.

O maior êxito econômico espanhol na América se refere à extração metálica. Estima-se que nos primeiros 150 anos de colonização espanhola tenha sido produzido algo em torno de 25 milhões de quilos de prata. Sendo que a maior parte dessa produção foi parar nos cofres da coroa espanhola ou nas mãos sedentas da burguesia metropolitana. A respeito do papel que os indígenas desempenharam nessa exploração, o Frei Domingo de Santo Tomás afirmou no século XVI: “Não é prata o que se envia à Espanha, é suor e sangue dos índios”.

Com o declínio da exploração de minérios, que aconteceu no século XVII (em grande parte devido à tragédia demográfica dos índios na América) se desenvolveu em várias áreas a pecuária ou a agricultura baseada na plantation, com a monocultura voltada para o mercado externo e a utilização de escravos, de origem africana.
 Acima uma ilustração que retrata um encomendero maltratando um indígena.
In:  http://imagohistoria.blogspot.com.br/2010/12/colonizacao-espanhola-da-america-2-de-3.html

Colonização espanhola da América (3/3): organização social

No que diz respeito à cultura e a sociedade que se organizou no Império espanhol, pode-se destacar a Hierarquia baseada, especialmente, em critérios étnicos. Essa hierarquia seguia estabelecia a seguinte ordem:

  • No topo desta hierarquia social estavam os brancos que representavam a Espanha na América, chamados de chapetones (América do Sul) ou guachupíns (no México).
  • Depois vinham os descendentes de espanhóis nascidos na América, conhecidos como criollos. Os criollos formavam uma elite local e ocupavam cargos importantes, contudo, estavam abaixo dos chapetones.
  • O grupo seguinte era o dos mestizos. Como foi visto um resultante do contato entre indígenas e espanhóis foi a mestiçagem, unindo, geralmente homens brancos com índias. Os mestiços ocupavam uma posição inferior na hierarquia social, dedicando-se a tarefas subalternas, como artesãos, feitores, peões, etc. Os mestiços, dependendo da cor da pele poderiam almejar a condição de criollos.
  • Abaixo dos mestizos, vivendo em péssimas condições, encontravam-se os índios, que estavam acuados por obrigações compulsórias, como a mita ou a encomienda.
  • Por fim, a base da hierarquia social era formada pelos escravos trazidos da África, que consistia na mão-de-obra preponderante na plantation. Os negros e indígenas sofriam com extremo preconceito por parte dos espanhóis e das elites locais.

Uma diferença importante entre a colonização da América espanhola e a colonização inglesa e portuguesa diz respeito à importância das cidades no Império espanhol. Devido à atividade mineradora, desde os primeiros anos de colonização formaram-se inúmeras cidades, muitas delas onde antes havia importantes centros do Império Asteca e Maia. Em termos de comparação, em 1607, data em que foi fundada a primeira cidade inglesa na América (Virgínia) já existiam mais de duzentas cidades na América espanhola.

Nessas cidades desenvolveram-se inúmeras universidades, as primeiras ainda na década de 1550, na Cidade do México e no Peru. Ao contrário do Brasil, a imprensa também foi introduzida desde cedo no América espanhola, ainda no século XVI.
 A imagem acima retrata a estratificação social existentes na América espanhola.
In:  http://imagohistoria.blogspot.com.br/2010/12/colonizacao-espanhola-da-america-3-de-3.html

Brasil Império: A transição do trabalho escravo para o trabalho assalariado

 In: http://imagohistoria.blogspot.com.br/2010/06/brasil-imperio-longa-agonia-da.html
O processo de transição do trabalho escravo para o trabalho assalariado vai se prolongar por praticamente todo o século XIX, em uma longa agonia.

Desde 1807 quando a Inglaterra proibiu o tráfico de escravos em suas colônias, o Brasil vinha sendo pressionado pelos ingleses a adotar medidas que minimizassem o prevalecimento da mão-de-obra escrava. Dentre desse contexto, pode-se destacar:

  • 1810 – Estabelecimento de áreas específicas na África para a busca de escravos.

  • 1815 – Proibições do tráfico de escravos ao norte da linha do Equador (o que efetivamente não ocorreu)

  • 1831 – Pressão britânica e suposto “fim do tráfico negreiro”, o que efetivamente não ocorreu, de tal forma que essa lei ficou conhecida como “lei para inglês ver”. Muitos liberais condenavam moralmente a escravidão no Brasil, mas ela era vista como um “mal necessário”, que deveria acabar gradual e muito lentamente.

  • 1845 – Aprovação da Lei Bill Aberdeen, que considerava o tráfico negreiro um ato de pirataria e permitia que a marinha britânica aprisionasse navios negreiros e à Justiça britânica o direito de julgar quem infringisse a lei.

A partir de 1850 os britânicos vão começar a perseguir os navios negreiros. O governo brasileiro, em face da repressão e não disposto a entrar em guerra com a poderosa Inglaterra, enfim, decreta a proibição do tráfico de escravos, que vai ocorrer em 1850 (Lei Eusébio de Queirós), prevendo castigos para os infratores e apreensão dos indivíduos traficados.

Com o fim do tráfico de escravos vai ocorrer o redimensionamento das forças produtivas, com um intenso tráfico interno de escravos, que eram deslocados das várias províncias para os grandes centros produtores de café.

Com a proibição do tráfico a tendência foi à gradativa elevação dos preços dos escravos (já que no Brasil a escravidão era dependente da importação, com baixíssimos índices de natalidade), tornando o custo da mão-de-obra para as lavouras impraticáveis. A instituição da escravidão – pela própria reprodução das lavouras cafeeira – estava condenada, mas o seu fim seria marcado por uma longa e interminável agonia.

A escravidão terminaria somente em 1888, contudo, ainda a partir de segunda metade do século XIX, já tem início, a introdução da mão-de-obra livre e assalariada, baseada nos imigrantes que começaram a chegar no Brasil.

Deve-se destacar que a visão e a finalidade da imigração não era a mesma para os imigrantes e os grandes fazendeiros. Os imigrantes sonhavam em ter a sua própria terra, contudo, os fazendeiros, por sua vez, preocupavam-se exatamente com o oposto, ou seja, imigrantes que não tivessem condições de obter sua própria terra, ficando obrigados a trabalhar nas grandes lavouras, em especial na cultura cafeeira.

De uma forma geral a imigração teve dois momentos distintos. Num primeiro momento, a partir da década de 1840 foi implantado o sistema de parceria. Neste caso, o fazendeiro era responsável por custear a viagem dos imigrantes europeus que se alojavam nas fazendas onde receberiam uma parcela de terra para o cultivo. Em contrapartida, os imigrantes deveriam entregar metade da produção ao fazendeiro, além de pagar todos os custos da viagem, a alimentação e ferramentas, a uma taxa de juros de 6% ao ano. Ainda, muitas vezes os colonos eram obrigados a comprar mercadorias (a preços elevadíssimos) nas vendas que ficavam dentro na própria fazenda, levando ao endividamento da família. No final das contas restava ao imigrante muito pouco daquilo que havia produzido.

Além de tudo isso, os imigrantes tinham péssimas condições de moradia e não raro sofriam maus tratos e abusos. Eram obrigados, por exemplo, a pedir permissão para poder se ausentar da fazenda ou receber convidados. Além disso, na maioria das vezes o poder dos grandes fazendeiros impedia que os colonos tivessem qualquer possibilidade de recorrer à justiça na medida em que o poder econômico e os interesses privados prevaleciam em relação ao poder público. Obviamente, a experiência de parceria foi um grande fracasso, sendo abandonado na década de 1850.

Para substituir esse modelo – que não foi bem recebido na Europa – o governo brasileiro criou a imigração subvencionada, onde o Estado pagava os custos de vigem do imigrante europeu, procurando regular a relação entre os imigrantes e os fazendeiros garantindo uma renda mínima aos colonos.
 Veja abaixo algumas ilustrações de Agostini, grande defensor da causa abolicionista.


 

Nas duas imagens acima, Agostini procura destacar e sensibilizar a opinião pública para os abusos que eram cometidos em relação aos escravos, destacando os castigos físicos. Abaixo, colaca-se em evidência o confronto entre ao abolicionistas e os escravocratas, que insistiam em manter instituição da escravidão, já a décadas fadada ao inevitável desaparecimento. Por último, uma imagem públicada no dia da abolição da escravidão no Brasil, onde os negros agora livres, comemoram entusiasticamente.




Acima um exemplo da propaganda utilizada para promover a imigração para o Brasil. Lê-se no cartaz: "Venham construir os seus sonhos com a família. Um país de oportunidade. Clima tropical e abundância. Riquezas minerais. No Brasil voces poderão ter o seu castelo. O governo dá terras e utensílios a todos." A cartoon abaixo ilustra uma das inúmeras dificuldades encontradas pelos imigrantes ao chegarem no Brasil.

 

O Estado no Segundo Reinado e a Proclamação da República

In: http://imagohistoria.blogspot.com.br/2012/08/o-estado-no-segundo-reinado-e.html
 
Segundo Reinado (1840-1889)

Em 1840 acontece o “golpe da maioridade” (com a Lei da Maioridade, se antecipou a idade legal para que o herdeiro do trono assumisse o poder) que arquitetado pelos políticos liberais, consegue colocar D. Pedro II no poder.

Durante o Segundo Reinado organizaram-se dois partidos políticos: o Partido Liberal (chamados também de luzias) e o Partido Conservador (chamados de saquaremas). Os dois partidos disputavam o poder entre si e a possibilidade de influenciar o governo imperial através de eleições fraudulentas, chamadas também de “eleições do cacete” (a terminologia surgiu em face das eleições de 1840, que segundo acusações dos conservadores, teriam sido fraudadas pelos liberais).

De uma forma geral, predominava o poder centralizador do imperador e normalmente vencia as eleições o partido, que segundo as circunstancias do momento, o imperador e seus articuladores consideravam que deveria vencer. Havia, portanto, uma alternância – um tanto quanto previsível – entre os dois partidos no poder. Por outro lado, os dois partidos estavam interessados na manutenção da hierarquia social, escravidão e desigualdade, inclusive fundada na posse da terra. De fato a única diferença entre liberais e moderados diz respeito ao a descentralização do poder: os primeiros defendiam o federalismo e o fim do poder moderados e os conservadores defendiam um executivo fortalecido.

A partir de 1847, em parte com a função de disfarçar o autoritarismo imperial, o Brasil vai adotar a experiência parlamentarista. Contudo, a parlamentarismo no Brasil vai apresentar contornos totalmente diferentes da experiência britânica, trata-se do “parlamentarismo às avessas”. Em primeiro lugar, quem nomeava o presidente do Conselho de Ministros (ou primeiro-ministro) era o próprio imperador. O primeiro-ministro por vez era encarregado das nomeações para formar o gabinete ministerial; em seguida, realizavam-se eleições para a Câmara dos Deputados (onde liberais e conservadores disputavam o poder). Deve-se observar, contudo, que permanecia em cena o poder moderador, podendo o imperador a qualquer momento demitir o primeiro-ministro e o gabinete e dissolver a Câmara dos Deputados.

Instauração da República

Em 1889 é instaurado o regime republicano no Brasil, fruto de uma articulação entre os setores agrários e a alta oficialidade do exército. A República, entretanto, não alterou as estruturas da sociedade brasileira.

A crise do Império foi resultado das transformações processadas na economia e na sociedade, a partir do século XIX, entre essas inúmeras transformações podem-se destacar:

  • O centralismo monárquico que se chocava com as aspirações federalistas das províncias – aspirações que já haviam rendido inúmeros movimentos de contestação por todo o Brasil.

  • Interferência do estado nos assuntos religiosos (o imperador, por exemplo, poderia nomear sacerdotes), fazendo com que o D. Pedro II perdesse gradativamente o apoio da Igreja Católica.

  • A falta de apoio dos militares, que haviam adquirido coesão a partir da Guerra do Paraguai e ansiavam por maior voz nos assuntos na nação.

  • Por outro lado, a crescente oposição da elite agrário-exportadora, parte dela insatisfeita com o fim da escravidão em 1888, que ocorreu sem a compensadora indenização.

  • A forte oposição do crescente partido republicano colocou Dom Pedro II em uma posição delicada. As ideias republicanas contribuíram grandemente para a desestruturação da imagem da monarquia. Através da propaganda procurava se mostrar toda a fragilidade da sucessão ao trono (com a morte do imperador quem estava imediatamente na linha sucessória era a princesa Isabel, e o seu detestado conjugue o conde D’Eu). As ideias republicanas ligadas ao federalismo gracejavam por jornais e revistas em todo o Brasil, potencializadas pela ironia e difamação da imagem da monarquia.

Percebendo que a situação tornara-se delicada o imperador tentou programar algumas reformas emergenciais, com a finalidade de acalmar os ânimos e manter o controle. O novo gabinete, nomeado pelo imperador tentou enfraquecer o poder do exército, o que apenas serviu para aumentar a insatisfação que deu lugar a uma manifestação, e posteriormente a derrubada do gabinete. O imperador, que estava em Petrópolis não teve tempo suficiente de voltar ao Rio de Janeiro para fazer valer a sua voz política.

Em meio ao tumulto, militares aliados à burguesia cafeeira conseguiram no dia 15 de novembro de 1889 impor o golpe que derrubou a monarquia, colocando no poder o marechal Deodoro da Fonseca e nomeando um Governo Provisório. Era o começo – diga-se, nem um pouco glorioso – da República no Brasil. 





sábado, 22 de setembro de 2012

Brasília: inauguração e primeiros anos

 Por que, quando foi dado o Golpe de 1964, o Presidente Jango se encontrava no Rio de Janeiro - e não em Brasília?

Na tarde de 20 de abril de 1960 iniciaram as cerimônias de inauguração com a entrega da chave da cidade para o presidente. À zero hora do dia 21 de abril de 1960, durante uma missa solene, Brasília foi declarada inaugurada em um clima de emoção e euforia, e o presidente e vários entre o público foram às lágrimas. Pelas ruas os candangos expressavam sua alegria. Às 8h da manhã foi dado o Toque de Alvorada pela banda dos Fuzileiros navais e minutos depois Juscelino hasteou a bandeira nacional diante do Palácio do Planalto. Em seguida Brasília iniciou suas atividades como capital, quando o presidente recebeu os cumprimentos das delegações diplomáticas. Às 9h30min foram instalados os Três Poderes, às 10h15 min, na Catedral de Brasília ainda inacabada, o Núncio Apostólico instalou a Arquidiocese de Brasília, e às 11h30min foi realizada a primeira sessão solene do Congresso Nacional. Ao fim da sessão Juscelino foi carregado nos ombros pelos parlamentares como um herói. À tarde a população se reuniu no Eixo Rodoviário Sul para assistir a um grande desfile militar, com a passagem do Fogo Simbólico da Unidade Nacional. As comemorações se repetiram e só encerraram oficialmente na noite de 23 de abril, com a representação de uma alegoria escrita por Josué Montello, que foi encenada com a participação de militares em parada, jovens da sociedade carioca, tratores e um helicóptero descendo do céu, além de inúmeros figurantes portando ferramentas de trabalho, personificando os candangos. A tônica da peça, que narrava a fundação das três capitais brasileiras, foi o contraste entre o abandono do velho e a adesão decidida ao novo, resgatando figuras históricas e apontando para um futuro brilhante, contra um cenário colorido por fogos de artifício e diante do aplauso frenético da população.




As quadras 700, Asa Sul, em 1964. Fonte: Arquivo Público do Distrito Federal





Maquete do Plano Piloto, no Espaço Lúcio Costa





Panorâmica da cidade de Sobradinho, criada em 1960
 
Apesar de inaugurada, Brasília não estava pronta, nem todas as terras haviam sido desapropriadas e a regularização fundiária não havia sido concluída. Grande número de edifícios importantes ainda era um esqueleto vazio, outros sequer haviam saído do projeto, e a carência de habitações finalizadas obrigou a muitos órgãos administrativos instalados no Rio retardarem sua transferência, em vista da impossibilidade de acomodar seus funcionários. As embaixadas também não puderam funcionar imediatamente, algumas porém mandaram representantes provisórios, circunstância causada pelo fato de o próprio Itamaraty ainda estar no Rio, só mudando para Brasília em 1970. Na prática, por algum tempo o Brasil teve duas capitais. As obras continuaram pelo menos até a década de 1970, quando suas principais estruturas foram ultimadas, mas a cidade nunca parou de crescer e desde o início já ficara evidente que se deviam tomar medidas para a preservação do plano original, sancionado-se em 1960 a Lei Santiago Dantas, a primeira lei orgânica do Distrito Federal, que obrigava qualquer modificação na cidade ser autorizada previamente pelo Senado, fixando um modelo urbano que se revelou socialmente excludente.
As mesmas dificuldades por que passavam os candangos no ambiente de trabalho se refletiram no momento da distribuição de lotes e apartamentos. A região do Distrito Federal fora comprada pela República ao preço de dois centavos por metro quadrado, mas se venderam as terras por quinhentos cruzeiros o metro quadrado. Em 1960 todos os lotes da Asa Norte já estavam vendidos ou reservados, e os interessados só podiam adquiri-los de terceiros, com um ágio de duzentos a trezentos mil cruzeiros. Se o interessado fosse um deputado, senador ou jornalista, a Novacap fornecia lotes livres a um preço razoável e sem ágio. Para área das mansões próximas ao Lago Paranoá, a zona nobre da cidade, o custo estava em trinta cruzeiros ao metro, mas apenas para clientes selecionados da elite, em especial favor da Presidência da República, enquanto que na zona residencial comum o preço subia para quinhentos cruzeiros. Outras discriminações diziam respeito ao grau de ligação com o governo federal que mantinham funcionários de categoria idêntica. Essa realidade contradizia os ideais esquerdistas de Niemeyer e Costa, para quem, na interpretação de Holston, Brasília deveria ser um exemplo de integração e nivelamento social, uma cidade que iria transformar a sociedade brasileira através de um movimento social pacífico. Segundo o plano original, todos os futuros habitantes de Brasília viveriam em moradias do mesmo tipo em zonas comunitárias mais ou menos autossuficientes, as superquadras. Gradações na hierarquia social, inegáveis, seriam expressas em variações discretas nas dimensões dos domicílios e na qualidade dos materiais e acabamentos. A própria organização do traçado urbano era prevista para favorecer ao máximo a integração de todos e possibilitar a todos um desfrute igualitário do espaço social, redefinindo, segundo princípios do Congresso Interncional da Arquitetura Moderna (CIAM), aquelas que eram consideradas as funções-chave da vida urbana - trabalho, moradia, lazer e tráfego -, assegurando a primazia do coletivo sobre o individual e evitando os problemas do desenvolvimento urbano capitalista.
Toda essa ideologia não se concretizou, a elite se apossou dos melhores locais e expulsou a classe baixa para as periferias, e a integração, como disse Couto, não passou de uma utopia. Cerca de 90% dos pioneiros pertenciam ao estrato social mais baixo e, na prática, "brasilienses" eram apenas os que viviam no Plano Piloto. Enquanto Juscelino chamava os candangos de heróis, em pouco tempo sua condição passou à pura e simples marginalidade. A segregação era ainda mais enfatizada pela existência de um cinturão verde em torno do Plano Piloto, isolando a área das periferias, e pela quase impossibilidade de as cidades-satélite se desenvolverem independentemente da aprovação federal. Seu crescimento era estorvado por pesada burocracia, por legislação que pretendia preservar as características do Plano Piloto e arredores, pela inconsistência nas demarcações dos lotes, rápida saturação de áreas autorizadas pela Novacap, especulação imobiliária, fraudes no sistema e várias restrições ligadas à efetivação da posse da terra. Em muitos casos a pressão habitacional sobre os operários os levou a se apossarem de lotes ilegalmente, e sua situação permaneceu irregular por longo tempo, como foi o caso da formação da Vila Matias e da Vila Sara Kubitschek.
Depois da saída de Juscelino do governo o plano desenvolvimentista começou a dar sinais de rápido esgotamento e a dívida pública se avolumara enormemente, com elevada inflação. As denúncias contra os gastos governamentais se amiudavam, a questão da reforma agrária e a luta pelos direitos trabalhistas ganhavam espaço, questionava-se a legitimidade das instituições, os sindicatos se mobilizavam em repetidas greves. A sociedade se inquietava e se dividia entre conservadores e radicais, e a solução armada para crise era vislumbrada por ambos os lados. Em poucos anos o clima político passou da plena democracia para a confusão e a instabilidade. Em Brasília a crise econômica e o desemprego eram especialmente sentidos, e temeu-se depredações e tumultos populares. Para aliviar a pressão o governo iniciou um programa de transferência populacional. Aviões da Força Aérea levaram inúmeros candangos desempregados para o sul do país para trabalharem na agricultura, e outros tantos, com suas famílias, receberam passagens de volta para suas regiões de origem. Ao mesmo tempo, aumentavam os rumores sobre a volta da capital para o Rio. Em 1964 o presidente João Goulart abandonou a capital e logo renunciou durante o Golpe de 1964, quando os militares assumiram o poder sob os argumentos de proteger a soberania nacional, combater a corrupção e evitar o "perigo comunista", instalando um regime autoritário e repressor.
 
In:  http://pt.wikipedia.org/wiki/Hist%C3%B3ria_de_Bras%C3%ADlia

Golpe militar: primeiro de abril?

O presidente João Goulart atendeu o telefone. Era manhã de 31 de março e ele estava no Palácio das Laranjeiras, no Rio de Janeiro. Do outro lado da linha, falava o senador Arthur Virgílio. “Presidente, o Almino (Affonso, líder do PTB, o partido do presidente) está dizendo que há movimentação de tropas.” Goulart consultou seu chefe do Gabinete Militar, general Assis Brasil. “O Mourão deslocou as tropas em exercício militar”, respondeu o general. O presidente então voltou ao telefone. “Isso é coisa da oposição que quer tumultuar”, disse. Satisfeitos com a resposta, Virgílio e Affonso tomaram um uísque para comemorar.
Ao longo do dia, as notícias só fariam colocar água na bebida dos dois políticos. Começava a ficar claro que Mourão (o general Olympio Mourão Filho) não estava liderando simples jogos militares. Suas tropas marchavam para o Rio de Janeiro com o objetivo de derrubar o governo. Nas bancas da cidade – que apesar de não ser mais a capital, continuava sendo o termômetro das ações políticas do país e sede de seu comando militar – , o jornal Correio da Manhã dava destaque em sua primeira página para um editorial intitulado “Basta!” – nenhum brasileiro precisava de mais informações para saber que o destinatário da mensagem era o presidente. Entre os autores do texto, os jornalistas Carlos Heitor Cony e Otto Maria Carpeaux. O poder de João Goulart estava por um fio.
Entre os oficiais mais importantes do país, crescia as adesões ao movimento detonado por Mourão. E ninguém, militar ou civil, parecia seriamente disposto a pegar em armas para defender o regime. No fim da noite, Goulart mais uma vez foi chamado ao telefone. Era o general Amaury Kruel, chefe das tropas de São Paulo e Mato Grosso. Ele exigia que o presidente rompesse com a esquerda. “General, eu não abandono meus amigos”, respondeu Goulart. “Se essas são as suas convicções, eu não as examino. Ponha as tropas na rua e traia abertamente”, completou. Kruel desligou o telefone e aderiu ao levante. O dia seguinte amanheceu com cinco tanques de guerra protegendo o Palácio das Laranjeiras, com seus canhões preparados para atirar. Para quem via de fora, era um sinal de força do governo. Para quem sabia o que estava ocorrendo, representavam uma das últimas linhas de defesa de Goulart.
O general Kruel havia acabado de evidenciar a falência do poder militar da presidência. Estava arruinado o “dispositivo” montado por Assis Brasil, como ficou conhecido o sistema de nomeações e promoções que colocou aliados do governo nos cargos mais importantes das Forças Armadas. A idéia era ter as tropas ao lado do presidente em caso de um levante da direita. Não era o que estava ocorrendo.
Jango, apelido que o presidente carregava desde a infância, perdia não só apoio militar, mas também o político. Num país cada vez mais polarizado entre a direita e esquerda, Goulart desagradava os dois lados. No último mês, no entanto, era acusado de aderir aos ventos que sopravam do leste europeu. Prometia conduzir as “reformas de base”, antiga exigência do Partido Comunista Brasileiro (PCB), que incluía a reforma agrária e o controle das remessas de lucros das multinacionais. Com isso, perdeu o apoio da classe média e dos empresários. Também viu-se abandonado pelos militares ao tolerar a revolta da baixa patente, que colocava em xeque a hierarquia dentro das Forças Armadas.
Aos olhos da oficialidade, Goulart selou seu destino na noite de 30 de março, quando participou de um comício para suboficiais e sargentos no Automóvel Clube do Rio de Janeiro. O grupo estava rebelado e contestava publicamente o comando militar. A presença do presidente num evento como esse referendava a postura dos revoltosos. Sem economizar no tom do discurso, Jango foi direto e falou sobre a possibilidade de um golpe. “Não admitirei o golpe dos reacionários. O golpe que nós desejamos é o golpe das reformas de base, tão necessárias ao nosso país. Não queremos o Congresso fechado. Queremos apenas que os congressistas sejam sensíveis às mínimas reivindicações populares”, disse.
O discurso era música para os conspiradores que preparavam a derrubada do governo, entre eles peixes graúdos como o chefe do Estado-Maior das Forças Armadas, marechal Castello Branco, e o governador de Minas Gerais, Magalhães Pinto. Não havia mais o que esperar, até porque, no momento do discurso, o general Mourão havia se rebelado em Juiz de Fora. Para eles, era preciso retirar urgentemente o país do caminho da esquerda e protegê-lo do golpe que se armava dentro do Palácio do Planalto. A cerca de um ano das eleições presidenciais, eram grandes as evidências de que o grupo de Goulart tramava uma manobra para garantir mais um mandato ao presidente, o que era proibido pela Constituição. “Se não dermos o golpe, eles o darão contra nós”, dizia o então deputado pela Guanabara Leonel Brizola.
Sem poder contar com a direita, a possibilidade de um golpe janguista minava a simpatia da esquerda. Goulart chegou a abril de 1964 contando com o apoio de seu partido, o PTB, de aliados como o PCB e pouco mais que isso. Pior: todos acreditando cegamente que o “dispositivo militar” garantia a permanência do presidente no poder. Tal crença imobilizou qualquer possibilidade de reação. Ao saber que uma greve em repúdio ao golpe militar fora convocada às pressas para o dia 1º, o líder comunista Luiz Carlos Prestes tentou interceder contra o movimento, argumentando que o governo tinha força militar para controlar os rebelados.
Não tinha e a greve geral não surtiu efeito. Na Guanabara, por exemplo, a paralisação dos serviços de transporte inviabilizou a manifestação de apoio a Goulart marcada para a Cinelândia. Sem ter como se locomover, apenas 4 mil pessoas enfrentaram a chuva forte que caía no Rio de Janeiro para ir ao local. Uma tropa do Exército, que a princípio havia sido recebida com aplausos, tratou de dispersar a multidão com tiros para o alto.
Greves e manifestações. Era tudo que a oposição ao golpe militar propunha para enfrentá-lo. Segundo o jornalista Elio Gaspari, no livro A Ditadura Envergonhada, quando teve uma proposta aberta para pegar em armas, a esquerda demonstrou falta de disposição para qualquer forma de combate que não o político. “No fim da tarde do dia 31, o chefe do Gabinete Civil, Darcy Ribeiro, convocou o deputado Marco Antônio Coelho, do PCB, para uma conversa no Palácio do Planalto.
Colocou sobre a mesa uma oferta de ceder submetralhadoras para os comunistas resistirem ao levante militar. Apresentou ainda uma lista de políticos que deveriam ser executados, incluindo os presidentes do Supremo Tribunal Federal, do Senado e parlamentares”, escreveu. O PCB recusou o convite.
Pouco antes do meio-dia, Goulart recebeu, por telefone, o pedido de demissão do ministro da Guerra, Jair Dantas Ribeiro. Era mais um que aderia aos golpistas. Jango deixou o Rio de Janeiro e voou para Brasília. “Isso aqui está uma ratoeira”, afirmou para um assessor. Estava mesmo. Logo após o presidente Goulart deixar a cidade, o I Exército, que agrupava todas as tropas do Rio de Janeiro, Minas Gerais e Espírito Santo, aderiu ao levante. A essa altura, as tropas rebeladas provavelmente já eram mais numerosas e estavam em melhor situação de combate do que as legalistas. Para isso, elas nem sequer precisaram participar de uma troca de tiros.
Mourão e Luiz Carlos Guedes, os dois militares que iniciaram o golpe, já não comandavam mais o movimento. Escondido num apartamento em Copacabana, o novo líder, marechal Castello Branco, “confiscou” a linha do vizinho e fez do telefone sua arma de combate. Ganhava praticamente uma nova adesão para cada chamada. Perto das 18 horas, deixou a clandestinidade e começou a circular livremente pelo Rio de Janeiro. A cidade estava dominada. Às 20 horas, ele e o general Arthur da Costa e Silva encontraram-se no quartel-general para discutir a divisão do butim de guerra, ou seja, quem comandaria o país dali para frente. Castello ficaria com a presidência. Costa e Silva, um até então desconhecido, seria o comandante do Exército. Cargo que, dali para a frente, seria cada vez mais relevante.
Na capital federal, Jango não encontrou nada que o fizesse acreditar que poderia continuar no cargo. Com o clima de fim de governo, embarcou para o Rio Grande do Sul perto das 23 horas. A viagem serviu para o Congresso Nacional considerá-lo deposto, mesmo que isso significasse passar por cima da Constituição, que declarava vago o cargo apenas quando o presidente deixasse o país. Ranieri Mazzilli, presidente do Congresso e sucessor legal de Jango, foi imediatamente empossado no Palácio do Planalto. A cerimônia começou enquanto Darcy Ribeiro ainda estava em seu gabinete e no momento em que o avião que levou Goulart pousava em Porto Alegre. Era inconstitucional, portanto. Mas isso não representou problema algum. Os tanques que guardavam o palácio presidencial pela manhã haviam deixado o local, atravessado o centro do Rio e estacionado à frente do Palácio Guanabara, dispostos a proteger o governador Carlos Lacerda, inimigo político de Jango e conspirador de primeira hora. Lacerda, ao comentar o desfecho do golpe, declarou entre lágrimas na televisão: “Obrigado, meu Deus, muito obrigado”. O Brasil estava sob nova direção.

In:  http://guiadoestudante.abril.com.br/estudar/historia/golpe-militar-primeiro-abril-433594.shtml

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Ditadura militar: Castelo Branco

 In: http://imagohistoria.blogspot.com.br/2011/10/ditadura-militar-1-de-5.html
 
Justificativas para o Golpe de 1964:

· Restaurar a disciplina e hierarquia dentro das Forças Armadas.

· Evitar a “ameaça comunista”.


Depois de perpetrado o golpe (31 de março de 1964) sem pouco ou quase nenhuma resistência do presidente da República ou de setores militares ou grupos de apoio legalistas, os militares golpistas trataram de por em prática mecanismos que impedissem uma rearticulação em torno da figura de Goulart.

Para tanto editaram a primeiro de uma série de Atos Institucionais. Trata-se de um artifício arbitrário, invenção do governo militar que não está prevista na constituição, ao contrário, que efetivamente se sobrepõe a constituição. O primeiro Ato Institucional determinava que fosse responsabilidade do Congresso Nacional eleger o novo presidente, além da suspensão de direitos políticos e a cassação de mandatos de parlamentares que tivessem algum compromisso com o governo Goulart, além de na prática, ocorrer uma forte repressão aos movimentos sindicais e estudantis.

Cabe destacar que pra além da repressão, perseguição e ostracismo de figuras importantes da política nacional como Jânio Quadros, João Goulart, Luiz Carlos Prestes, muitos setores e personalidades na cena política nacional, além de países como os Estados Unidos, saudaram, incentivaram ou concordaram com a tomada de poder pelos militares, como forma de impedir que o Brasil tomasse uma postura mais próxima do que poderia se considerar um flerte com o socialismo ou “esquerdização”. Entre essas figuras está ninguém menos que o “derrubador de presidentes”, Carlos Lacerda. No caso dos Estados Unidos, houve um acompanhamento dos desdobramentos do golpe no Brasil e em caso de necessidade, os norte-americanos forneceriam apoio logístico os militares golpistas para viabilizar a consolidação da tomada de poder, o que efetivamente não foi necessário.

Não existia um consenso entre os militares ou uma grande articulação em termos de ideais e mesmo de unidade político-militar o momento em que se precipitou a tomada de poder. Mesmo assim, podem-se delinear duas tendências bastante distintas:

· De um lado um grupo de militares que defendiam uma intervenção mais moderada e pontual, com uma breve transição para governos civis (liderados por Castelo Branco).

· De outro, um grupo de militares que defendiam uma intervenção por um longo período (grupo esse, liderado pelo general Costa e Silva).


Com o Congresso relativamente sobre controle foi eleito o novo presidente: o marechal Umberto de Alencar Castello Branco (1964-67), prometendo o crescimento econômico e a volta à “normalidade” (o que se efetivou somente 21 anos depois).

Na prática, Castello Branco deu continuidade a promulgação dos Atos Institucionais, com o AI-2 que declarava instinto os partidos políticos existentes e possibilitou a articulação de dois novos partidos: ARENA (Aliança Renovadora Nacional, sustentáculo do governo militar) e MDB (Movimento Democrático Brasileiro, que era a oposição, na medida em que uma oposição poderia atuar em uma ditadura).

Com os Atos Institucionais subseqüentes criou-se o SNI (Serviço Nacional de Informações), que tinha como função resguardar a “segurança nacional” e controlar os opositores do regime, ou chamados de “inimigos internos”, ou seja, a ameaça já não vinha da distante URSS, estava sim, infiltrada no próprio território nacional.
 Na charge acim, de Hilde Weber, Castelo Branco cobre o Congresso Nacional.

 Castelo Branco

Ditadura militar: Costa e Silva e "os anos de chumbo"

In: http://imagohistoria.blogspot.com.br/2011/10/ditadura-militar-2-de-5-costa-e-silva-e.html
 
Em 1967 assume o poder o general Artur da Costa e Silva (1967-69). Durante o governo de Costa e Silva, vários setores e personalidades da política brasileira, inclusive, muitos que haviam apoiado o golpe começam a se mobilizar contra o Regime Militar. 


Entre essas mobilizações ocorreu até mesmo uma tentativa de articulação de três grandes nomes da política nacional: João Goulart, JK e Carlos Lacerda (Frente Ampla). A tentativa de articulação foi imediatamente colocada na ilegalidade, contudo, as manifestações continuaram em ritmo crescente no ano de 1968 (com ampla participação dos jovens que adotaram lemas como “é proibido proibir”) misturando ameaças e paranóias tanto por parte dos manifestantes como dos militares.

Nos dias 19, 20 e 21 de junho o Rio de Janeiro assistiria a um grande combate entre militares e opositores, especialmente os estudantes, com batalhas que duravam horas, em especial na sexta-feira sangrenta dia 21/06. 


A morte de manifestantes mobilizou definitivamente a classe média a tomar uma posição contra o regime militar, fazendo com que Costa e Silva perdesse definitivamente o apóio da mídia e dando lugar à famosa Passeata dos Cem Mil, em julho de 1968, que reunia artistas, estudantes e amplos setores da classe média. 



Para alguns militares ficava claro que o Brasil estava sob ameaça de idéias subversivas e era necessário, portanto, endurecer o regime. Em 2 e 3 de setembro de 1968 é lançado uma campanha para boicotar o desfile de sete de setembro, onde se apela até mesmo para o bom senso das raparigas brasileiras recusarem-se a manter vinculações com oficiais. A resposta dos militares à provocação e aos manifestantes ocorreu por meio da promulgação do famigerado AI-5, que entre outras regras, estabeleceu:

· Direito de cassação de mandatos políticos.

· Possibilidade de fechar o Congresso Nacional (o que efetivamente aconteceu imediatamente).

· Suspender direitos políticos de qualquer cidadão.

· Decretar o confisco de bens.

· Suspender o habeas-corpus.

· Aplicação de pena de morte e de prisão perpétua para crimes políticos.

· Possibilidade de retirar a autonomia do Poder Judiciário.

A ditadura tornava-se “escancarada”, dando lugar aos chamados anos de chumbo, que entre outras características foram permeados:

· Redução quase a zero da possibilidade de oposição.

· Extrema truculência comandada pelos militares.

· Formação de guerrilhas urbanas e rurais.

· Ampliação dos aparelhos repressores com a articulação do Departamento de Operações Internas e Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi) e o Departamento de Ordem Política e Social (Dops).

· Criação de grupos paramilitares de direita, como sustentáculo do regime e caça os inimigos e comunistas, entre eles o Comando de Caça aos Comunistas, os Esquadrões da Morte e a chamada Operação Bandeirantes (Oban).

· Censura ou adaptação da imprensa aos novos tempos, com demissões de jornalistas e adoção de uma postura mais favorável aos militares.





Ditadura militar: o "milagre econômico" e a concentração de riquezas

No plano econômico os governos militares herdaram um quadro com a inflação chegando a 80% ao ano e o crescimento do Produto Interno Bruto muito reduzido. Com a intenção de melhorar os índices da economia brasileira os militares adotam uma política recessiva e monetarista indicada pelo Fundo Monetário Internacional:

·         Reduz as obras públicas.

·         Corta subsídios e o crédito interno.

·         Manutenção dos salários em patamares reduzidos.
 
·         Controle energético da inflação (objetivo de reduzi-la a 10% ao ano).

Por meio do lançamento do Paeg (Plano de Ação Econômica do Governo) os militares ambicionavam elevar o Brasil a categoria de uma grande potência mundial, aumentando a renda per capita e elevando o crescimento do PIB. 

Para garantir esse crescimento, se procurou garantir facilidades para o crescimento econômico e principalmente para os investimentos externo no país:

·         Grande flexibilidade nas remessas de lucro.

·         Controle dos sindicatos.

·         Repressão aos trabalhadores e lutas no campo, consolidando a concentração fundiária e aumentando o êxodo rural.

·         Com o arroucho dos salários a formatação de uma mão-de-obra barata.

·         Fim da estabilidade no emprego e criação do FGTS.

·         Com a finalidade de captação de recursos por meio da poupança cria a correção monetária, que em um contexto de inflação alta acaba por criar um mecanismo que enraíza a inflação nos meandros da economia brasileira. 

·         Incentivos do governo ao setor exportador, num momento de crescimento da economia mundial.

·         Crédito visando à incorporação da classe média e alta ao mercado consumidor.

Com essas medidas, os investimentos externos e do próprio Estado se ampliam no país, que vai assistir a um surto de crescimento econômico que ficou conhecido como “milagre brasileiro”. Durante o período de 1968 a 1973 a economia brasileira cresce em média 10% ao ano. 

Falava-se em “fazer crescer o bolo, para depois reparti-lo”, o que, contudo, somente ajudava a mascarar um crescimento que privilegiava a concentração de riquezas nas mãos de poucos:

·         Em 1960 1% da população mais rica detinha 11% da renda nacional, em 1970 já detinham 18%.

·         Em 1960 5% da população mais rica detinham 28% da renda nacional, em 1976 já detinham 40%.

·         Em 1960 50% mais pobre da população detinham 28% da renda nacional, em 1970 detinham apenas 13%.

·         Em 1960 um trabalhador que ganhasse um salário mínimo precisava trabalhar 65 horas para comprar os alimentos básicos necessários a sua família, sendo que na década de 1970 esse mesmo trabalhador precisava de um total de 153 horas.

·         Os índices sociais e a qualidade de vida da população não melhorou, ao contrário, alguns indicadores como a mortalidade mostravam que a situação crítica se acentuava, por exemplo, em 1964 a mortalidade infantil era de 70 crianças para 1000 nascimentos, sendo que na década de 1970 esse indicador apontava 115 crianças mortas para o mesmo grupo de 1000 nascidos.

·         Em 1975 70 milhões de brasileiros apresentam desnutrição, o que equivale a mais de 60% da população brasileira. Apesar de ser a nona economia do mundo, mas em desnutrição está entre os piores do mundo.

A partir de 1973 o Brasil como resto quase todo o mundo, vai sofrer como a crise do petróleo (os países da OPEP elevam em pouco tempo o valor do barril de petróleo de 3 para quase 12 dólares), que leva a uma elevação dos juros no mercado financeiro internacional fazendo com que o Brasil, que dependia da importação do petróleo (80% do petróleo era importado) visse suas contas e sua dívida aumentarem vertiginosamente. Trata-se de um momento de recessão mundial, com elevada inflação e aumento dos déficits públicos. Observe a escalada da inflação no Brasil:

·         Final da década de 1970, inflação de 94% ao ano.

·         1980 inflação de 110% ao ano.

·         1983 inflação de 200% ao ano.

A partir de 1975 o Brasil começaria a sentir os efeitos de uma grave crise econômica que se prolongaria por toda a década de 1970 e adentraria os anos oitenta culminando com a decretação da moratória em 1983, onde o Brasil reconhecia a sua incapacidade de pagar os empréstimos externos. 



Construção da ponte Rio-Niteroi, uma das grandes obras de infra-estrutura da época da Ditadura Militar.
 
In:  http://imagohistoria.blogspot.com.br/2011/11/ditadura-militar-3-de-5-o-milagre.html